Caminho de Santiago – Lendas
Esta seção é muito especial, pois é exatamente aqui onde iremos encontrar as lendas e informações mais conhecidas sobre as principais cidades/vilarejos do caminho. Preparem as mochilas, erga a cabeça em direção ao céu e agradeça a Deus por sua vida (sulseya) e, fortalecido pelo manto azul de nosso Senhor, siga em frente (ultreya).Vamos considerar como quilometro zero o vilarejo Roncesvalles, e também como nosso ponto de partida para esta aventura.

Km 0 – Roncesvalles
Roncesvalles é uma vila muito pequena próximo a fronteira da Espanha com a França situada na região da Navarra, composta da Real Colegiata, com o claustro, a capela e o refúgio para os peregrinos, também há uma pequena pousada e um hotel, ambos com restaurante.
Próximo a Rancesvalles, no ano 778, houve uma batalha onde os navarros atacaram a retaguarda do exército de Carlos Magno. Mais do que a lembrança da vitória militar, Roncesvalles é hoje um santuário, um complexo de construções medievais, na maioria datadas do século XII. Na época áurea das peregrinações, cerca de 25 mil rações eram ali distribuídas anualmente.
Na Igreja da Colegiata de Roncesvalles, às 20.00h, é realizada a missa onde geralmente o padre Xavier, um grande entusiasta da peregrinação, abençoa os peregrinos em vários idiomas – tudo de forma muito emocionante.

Km 42 – Pamplona
Pamplona é a capital da província de Navarra, é uma cidade importante. Seu nome basco é Irunã e sua história é repleta de lutas.
A antiga muralha construída para proteger a cidade contra os ataques dos mouros, também serviu de proteção contra o exército de Carlos Magno que acabou por destrui-la, no séc. XIII. Foi pelo saque à Pamplona que os navarros atacaram a retaguarda das tropas de Carlos Magno na batalha de Roncesvalles.

Km 65 – Puente La Reina
Local onde todos os caminhos se encontram.
Com a afluência dos peregrinos na região, no século XII foi construído a ponte sobre o rio Arga – Puente Del Arga, posteriormente passou a ser chamada Puente La Reina (Ponte da Rainha).
A assistência aos peregrinos esteve nas mãos da Ordem dos Cavaleiro Templários desde 1142 até a sua dissolução no século XIV. Durante este período os Templários construíram a Igreja do Crucifixo, onde se encontra uma magnífica escultura em madeira de um Crucifixo Celta do século XIV.
A 5 Km de Puente La reina (pelo caminho de Jaca) encontra-se, em meio a uma planície isolada, a Igreja de Santa Maria de Eunate, um templo românico de forma octogonal construída no século XII pela Ordem dos Cavaleiros Templários. É, sem dúvida, um dos monumentos mas conhecidos do caminho, e também um dos mais valiosos.

Km 85 – Estella
Estella é uma das mais importante cidades do Caminho de Santiago, nasceu graças às peregrinações. No século XIII era, essencialmente, uma cidade de mercadores. Foi corte de reis e hoje é considerada a capital espiritual de Navarra. É também a sede da Sociedade Amigos do Caminho de Santiago.
Há muito para se ver. As igrejas são, em sua maioria, de estilo arquitetônico de transição entre o românico e o gótico.
Entre elas temos a Igreja de San Miguel, Igreja de La Virgem de Puy, Igreja de San Pedro de Lizarra e a Igreja de Santa Maria Jus Del Castillo, próximo encontra-se o Convento de Santo Domingo.

Km 133 – Logroño
Logroño é uma cidade grande e moderna localizada na região La Rioja. Os peregrinos entram na cidade através da Ponte de Pedra construída sobre o rio Ebro em 1076. Em seguida, chegam a parte velha da cidade onde poderão conhecer a Catedral de Santa Maria La Redonda e a Igreja de Santiago El Real, nessa há uma grande imagem de Santiago Matamoros, a versão cavaleiresca do Apóstolo, em que ele derrota os mouros sob as patas do cavalo, invocado na Batalha de Clavijo, cerca de 17 quilômetros da cidade.

Km 159 – Najera
O nome de Najera, em árabe (lugar entre rochas), revela a origem e caráter desta cidade. Cruzando ruas antigas com seus casarões dos séculos XI e XII, chega-se ao Monastério de Santa Maria La Real. O monastério foi fundado em meados do século XI por D. García de Najera, governador do rei Sancho, o Maior. Uma lenda conta que, em um dia de caça, o falcão de D. García introduziu-se em uma caverna em perseguição a uma pomba. D. García descobriu ali uma imagem da Virgem com um jarro com lírios a seus pés, iluminada por uma lamparina, junto a qual pousava a pomba.
Essas imagens induziram D. García a construir uma igreja e a fundar a Ordem dos Cavaleiros de Terraza (jarro). Todos os elementos que compõem essa lenda ainda hoje podem ser vistos: a imagem românica de Santa Maria La Real, o jarro, a lamparina e a própria caverna que tem 10 metros de profundidade aberta na rocha.

Km 180 – Santo Domingo de la Calzada
Santo Domingo de La Calzada é uma das mais importantes cidades do Caminho de Santiago.
Domingo de La Calzada nasceu em 1019. Era um nobre que não foi admitido em um Mosteiro Beneditino, apesar da vocação. Decidiu-se, então, a ajudar os peregrinos e a ampará-los de todas as formas que pudesse. Construiu passagens, abrigos, pontes, sinalizou trechos e restaurou hospitais de peregrinos. Domingo de La Calzada morreu com 90 anos.
Contam que no século XIV, um jovem chamado Hugonell percorria o caminho de Santiago acompanhado de seus pais.
Num dos albergues da estrada, o jovem recusou as investidas de uma mulher e ela, por vingança, colocou em segredo uma taça de prata na bagagem do rapaz. A moça chamou os guardas e acusou Hugonell de furto. Condenado, o rapaz foi enforcado. Os pais do jovem, apesar da tragédia, prosseguiram viagem e no regresso encontraram o filho milagrosamente vivo, mas ainda pendurado na corda.
Procuraram o juiz na cidade e pediram que o rapaz fosse libertado. O juiz estava à mesa e não acreditou na história do casal, e disse que “seu filho estava vivo como o galo e a galinha assados, sobre a mesa”. E neste instante o galo e a galinha se emplumaram e puseram a cantar.
O juiz soltou Hugonell, que disse ter sido salvo pela intervenção de São Domingos. Desde esse dia, na Igreja de Santo Domingo de La Calzada, um galo e uma galinha são mantidos vivos junto num galinheiro próximo ao altar. Ao entrar na Igreja, se você ouvir o galo cantar, é um sinal de que a peregrinação será bem-sucedida.

Km 226 – San Juan de Ortega
San Juan de Ortega é um pequeno vilarejo, com 5 ou 6 casas apenas, ruínas de dois monastérios, a igreja e a hospedaria, todos do século XI.
Como Santo Domingo de La Calzada, San Juan dedicou sua vida aos peregrinos, e como Santo engenheiro, também, construiu caminhos, pontes e a Ele é atribuído alguns milagres como uma criança que voltou a falar e um pobre paralítico que voltou a andar.
Num altar subterrâneo, na Igreja construída pelo próprio San Juan, encontra-se o túmulo do Santo.

Km 250 – Burgos
Burgos foi fundada em 884 pelo Conde Diego Rodrígues. Afastada da fronteira, e devido a sua situação estratégica como encruzilhadas das rotas do mar e do Caminho de Santiago, começou a se desenrolar ali uma intensa atividade comercial. Com o tempo vários bairros surgiram ao redor da cidade, formando um importante centro econômico e político, chegando a ser a capital do reino de Castilha.
Burgos também é conhecida como Cidade Del Cid, o herói da região. Na praça Miguel de Rivera encontra-se a estátua do Cid presidindo uma das pontes sobre o rio Arlanzón ornada de personagens do romance.
Próximo a estátua do Cid, indo pelo Paseo del Espolon, chegamos ao Arco de Santa Maria, uma das portas de entrada da antiga Burgos, construída por volta do século XIII.
A Catedral de Burgos é praticamente o monumento mais importante, e também patrimônio da Humanidade, e uma das jóias do Gótico Universal. A construção teve início em 1221, mas várias partes da Catedral foram concluídas alguns séculos depois, como a magnífica cúpula datada do século XVI. Sob esta cúpula encontra-se os restos do Cid, lendário herói burgalês, e sua esposa Ximena.

Km 288 – Castrojeriz
Neste trecho do Caminho, o terreno é plano e praticamente se anda 10 ou 11 quilômetros sem nada para ver, nem uma vila. São apenas plantações de trigo, cevada e girassóis. O horizonte termina onde a vista alcança.
Castrojeriz é uma cidade pequena situada ao sopé de um morro. No topo, encontram-se as ruínas do castelo de Castrojeriz do século IX. Existe também a Colegiata de La Virgem Del Manzano.

Km 312 – Fromista
Tudo indica que devido a abundância de trigo na região, este acabou dando nome a cidade que deriva do latim (frumentum) vocábulo que designa este cereal. Após um período de abandono, Dona Mayor (a mesma que mandou construir a ponte de Puente La Reina) mandou construir, por volta do ano 1066, o monastério de San Martín, cuja igreja restaurada em 1896, constitui a principal atração artística da vila. A igreja de San Martín é uma da mais autenticas igrejas românicas da Espanha.

Km 332 – Carrion De Los Condes
Na entrada de Carrion, encontra-se o Convento de Santa Clara, do século XIII que, segunda a tradição, hospedou San Francisco de Assis peregrino.
Junto a uma muralha foi construído no século XII, a Igreja de Santa Maria del Camino onde no mesmo local, cem donzelas que iam ser entregues aos muçulmanos, foram salvas graças ao descontrole de uma manada de touros bravos que acabaram por matar os inimigos.

Km 423 – Léon
Léon é uma das mais belas cidades do Caminho, mistura o antigo com obras modernas, é bem cuidada e tranqüila, apesar do grande porte.
A Catedral de Léon é um excepcional exemplar do gótico francês na Espanha, construída no século XIII. Possui três naves grandes com cinco capelas radiais. São famosos seus vitrais que, somados, ocupam 1.800 metros quadrados de superfície a ponto de ser chamada de A Catedral de Pedra e de Cristal.

Km 455 – Ponte de Órbigo
A Ponte sobre o rio Órbigo, do século XIII, deu fama ao rio, e o rio cedeu seu nome a Ponte como apelido. Com aparência medieval e com arcos romanos, passaram, por sua larga e tortuosa calçada, milhares de peregrinos de toda qualidade, desde os mais simples até Reis e Santos.
A Ponte de Órbigo é também conhecida como Passo Honroso, o lugar onde um cavaleiro de Leon decidiu enfrentar centenas de outros cavaleiros, após ter sido recusado por uma dama.

Km 471 – Astorga
Astorga foi colônia imperial e centro das legiões romanas, e também um dos primeiros focos do cristianismo espanhol, sua sede episcopal, que data do século III, é uma das mais antigas da Espanha. Ainda hoje parte dos limites da cidade é demarcada pelas antigas muralhas romanas, que passam por trás da Catedral de Santa Maria (século XV) e do moderno Palácio de Goudí – construído em 1899 a 1913.

Km 497 – Foncebadón
A 1.500 metros de altura, no Monte Irago, encontra-se a ruína de uma pequena vila erguida no século XII, composta apenas de uma rua. Tal vila foi fundada por um monge e este levantou uma igreja e uma hospedaria de peregrinos. A lenda conta que, muitos anos depois, em plena inquisição, um cigano chegou a Foncebadón em uma noite fria e pediu abrigo aos aldeões. Além de ninguém te-lo recebido, decidiram expulsá-lo e tal atitude transformou-se em linchamento, levando o rapaz a morte numa fogueira. Porém, antes de morrer, o cigano lançou uma maldição sobre Foncebadón: que nunca mais ninguém ali procriaria, que a vila iria morrer, lentamente, com seus habitantes e que as trevas tomariam conta das ruínas, para que ninguém ousasse ali se estabelecer, muitos acreditam que o mal se manifesta nos vários cachorros que vivem na região.
A cruz de Ferro teria sido erguida pelo mesmo monge que fundou Foncebadón, para orientar os peregrinos durante as nevascas. É uma cruz pequena que está fixada no topo de um poste de madeira de 5 metros de altura. Segundo a tradição, o peregrino deve fazer um pedido e jogar uma pedra no monte. A poucos metros há uma pequena ermida, construída no Ano Compostelano de 1986, inaugurada pelo Papa João Paulo II, em homenagem à Santiago.
Mais dois quilômetros a frente, encontra-se o refúgio de Manjarín, onde o carismático Tomáz Martinez irá recebe-lo ao som de um sino.

Km 520 – Ponferrada
O nome Ponferrada vem de uma ponte de ferro, construída sobre o Rio Sil, para dar passagem aos peregrinos do Caminho.
Os templários estiveram na região, fundando hospedagens refúgios e também construíram um castelo, onde parte dele é do século XII. O castelo é aberto à visitação – exceto aos domingos e às segundas – feiras.
Na próxima parada, em Villafranca Del Bierzo, não deixe de visitar, ou melhor, de se hospedar no “Refúgio Ave Fênix.”

Km 570 – Cebreiro
O Cebreiro é uma aldeia de origem pré – histórica, que surgiu como um refúgio no século IX. Em 1072 ali foi erguida uma Igreja e um albergue para peregrinos. A aldeia tem pouco mais de 20 habitantes e se constitui de algumas palhoças, característica vivendas de origem celta, e em sua maioria de casas de pedra, um restaurante, dois bares e uma pousada.
A igreja é simples mas contém um famoso cálice – que muitos o chamam de o Santo Graal do Cebreiro. A sua fama se deve ao milagre ocorrido no século XIV, onde um padre, que não estava muito animado em realizar a missa das seis da tarde – porque o tempo estava muito ruim, foi obrigado a realizá-la devido ao comparecimento de uma única pessoa.
O camponês chegou à igreja com as roupas ensopadas e sujas de barro – mas a sua fé foi mais forte que o mau tempo. Então, o padre começou a celebrar a missa com certa irritação. Na hora da consagração ergueu o cálice e, para a surpresa de ambos, a hóstia converteu-se em carne e o vinho em sangue.

Km 630 – Portomarín
Portomarín, no séc. IX, localizava-se na parte baixa, junto ao rio Miño, hoje está toda na parte alta do morro à margem direita do rio. A antiga ponte, reconstruída em 1.120, ainda existe sob a nova ponte de 100 metros de altitude.
Em 1962 a histórica Portomarín seria submersa pelas águas da represa Belesar, que inundaria justamente àquela área. Decidiu-se, então, transferir os monumentos históricos para nova Portomarín, no alto do morro. Dessa forma, a igreja-fortaleza de San Nícolas, a igreja de San Pedro e outros monumentos, do séc. XII ao Séc. XVII, foram desmontados, pedra por pedra, e remontados no alto do morro.

Km 740 – Monte do Gozo
O Monte do Gozo está a 368 metros de altitude e a 4 quilômetros de Santiago de Compostela. Existe no local, o monumento ao Peregrino com homenagens à São Francisco de Assis e ao Papa João Paulo II.
Do alto deste monte pode-se avistar as torres da Catedral de Santiago e, segundo a tradição, o peregrino deve descer cantando.


Km 744 – Santiago de Compostela
A entrada em Santiago era algo tão deslumbrante na Idade Média como nos nossos dias. Ao chegar à praça do Obradoiro, o peregrino terá o melhor cenário de Compostela e, sem dúvida, uma das mais belas paisagens urbanas que poderá conhecer.
A Catedral substituí o que foi no passado, uma pequena basílica de três naves, dos finais do séc. IX, que, cerca de cem anos mais tarde, foi destruída pelos muçulmanos, onde somente o túmulo do Apóstolo foi respeitado. E, como já vimos, em 1075 foi iniciado a construção da Catedral.
Após subir os degraus, chega-se à entrada principal – O Pórtico da Glória. Segundo a tradição, o peregrino deve introduzir os cinco dedos da mão direita nas cavidades existentes na coluna de pedra, onde, logo acima, uma bela imagem do Apóstolo está esculpida.
Por trás do altar principal, após subir alguns degraus, passa-se pelas costas da imagem de Santiago Peregrino e se tem a oportunidade de abraçá-lo.
Abaixo do altar encontra-se a arca de prata que contém as relíquias do Apóstolo.